O presidente do Paraguai, Santiago Peña, afirmou nesta sexta-feira (4) que a suposta espionagem conduzida pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) “abre velhas feridas” na relação com o Brasil. A declaração foi dada durante entrevista à Rádio Mitre, da Argentina.
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“O Paraguai passou por momentos difíceis na história da região. Enfrentamos uma guerra de extermínio, a Tríplice Aliança, e o Brasil permaneceu em nosso território por quase dez anos. Essas são feridas que tentamos cicatrizar. Infelizmente, esse episódio as reabre.
Queremos superar esse passado marcado por ressentimento e ódio, vindos principalmente de fora. Mas hoje percebemos que esse sentimento ainda existe”, disse Peña.
Foi a primeira vez que o presidente comentou a suposta operação da Abin contra autoridades paraguaias. Segundo o governo Lula (PT), a ação foi planejada ainda durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). De acordo com a atual administração, a operação foi interrompida assim que foi identificada.
Na quinta-feira (3), o Ministério Público do Paraguai abriu um processo criminal para investigar uma possível espionagem digital da Abin contra autoridades e instituições paraguaias.
O governo do Paraguai já havia convocado o embaixador do Brasil em Assunção, José Antônio Marcondes, no início da semana, para pedir explicações sobre o suposto monitoramento feito pela inteligência brasileira.
Peña reforçou a posição do chanceler paraguaio, Rubén Ramírez Lezcano, ao dizer que o episódio deve ser tratado como uma questão diplomática entre Estados, e não entre governos.
A espionagem teria ocorrido durante as negociações do tratado da usina de Itaipu. Após a divulgação do caso, o Paraguai suspendeu temporariamente as discussões relacionadas ao Anexo C do acordo.
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Guerra do Paraguai
A Guerra do Paraguai (1864–1870) foi o maior conflito armado da América do Sul, envolvendo o Paraguai contra a Tríplice Aliança — formada por Brasil, Argentina e Uruguai.
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Iniciada pelo ditador paraguaio Solano López, a guerra tinha como objetivo ampliar o poder regional de Assunção. No entanto, o confronto resultou na devastação do Paraguai, com grande parte da população morta e sua infraestrutura destruída.
O Brasil saiu fortalecido militarmente, enquanto o Paraguai mergulhou em uma longa crise social e econômica.